FICs

 
 A FICs é uma agência de criação de novas idéias para audiovisual, que aproxima formação, descoberta de novos talentos e criação e realização de filmes e formatos inovadores.
 Em 2010 fizemos consultoria para o Edital FICTV (da Secretaria do Audiovisual) coordenando uma equipe de consultores que ministram oficinas de roteiro, casting e direção para a produção de 8 seriados.
       (link).
 Outra realização de destaque da empresa foi o Workshop e Concurso de Roteiro “Cidade dos Homens”, uma parceria entre a FICs e a 02 Filmes. O Workshop teve quase 500 alunos que criaram roteiros para a série Cidade dos Homens. Foi o maior curso de roteiro on-line já realizado no Brasil e uma iniciativa pioneira de criação coletiva, que renovou a criação de roteiros e revelou novos talentos.
  Outro projeto da FICs foi o projeto multiplataforma “Confissões de Acompanhantes”, que lançou o livro, série para webtv e peça de teatro.
  A FICs atua também na área de pensamento audiovisual e lançou livros como o “Manual de Roteiro”, além de realizar mostras e seminários.


PRINCIPIOS - Fabricando formas de produção:
    
               A FICs (Fábrica de Idéias Cinemáticas) é uma central de identificação, coordenação e potencialização de talentos dispersos, reunidos em função de uma produção audiovisual ao mesmo tempo seriada e experimental.
               A FICs acredita num modelo de criação que combina o melhor do potencial individual com o melhor da organização coletiva industrial; que supera as limitações criativas impostas pelo oligopólio das corporações de produção de conteúdo ou pela atomização da produção artesanal. Como Vertov, acreditamos que o homem se multiplica na relação organizada com os outros homens.
               Esse processo coletivo não faz distinção – como diria Godard – entre realização e reflexão. Filmar, editar, escrever, exibir, debater, são meios diferentes e simultâneos de buscar a representação do mundo contemporâneo. A FICs pretende ser uma fábrica que não se distingue de uma escola: a formação e a produção são processos que se alimentam continuamente.
               Nossa missão é a construção de pontes entre grupos culturais e sociais criativos, como fios que ligam pontos com diferenças de potencial, gerando a corrente elétrica da inovação. Acreditamos na produção cultural como atividade iconoclasta de desrespeitar fronteiras para criar encontros, processos e produtos surpreendentes e diversos, à altura do imenso potencial cultural brasileiro.
               A FICs nasceu para multiplicar espaços de invenção, numa permanente construção de projetos que envolvam parceiros abertos à desespecialização criativa e avessos à guetização da sociedade. Queremos contribuir para a ampliação dos setores sociais que realizam audiovisual no país, criar novos canais de distribuição dessas obras, incentivar o enraizamento regional e a descentralização econômica dos empreendimentos de produção. São esforços coordenados nesse sentido que propiciarão a multiplicação de obras inovadoras.
 A partir de 2004 começamos a atuar também em produção audiovisual, co-produzindo o filme de curta-metragem “Curupira”, em associação com a Trattoria di Frame. O curta teve roteiro de Fabio Camarneiro, da equipe FICs e foi dirigido por Fabio Mendonça. “Curupira” ganhou prêmio de Melhor Filme no Festival do Rio de Janeiro.  No momento estamos em pré-produção de um documentário de longa-metragem chamado “Apartados”, que será dirigido porNewton Cannito a partir da obra de Cristovam Buarque, com co-produção da Tiete Filmes e participação e co-produção de Cazé, da MTV.
  A proposta da FICs vai além da produção cinematográfica e desde o início da produção do filme ela já começa a atuar em projetos que prevejam a sua futura difusão. Para isso, a FICs faz a ponte com empresas de distribuição cinematográfica, redes de televisão, escolas, universidades, centros culturais, etc... Entre parceiros recorrentes em nossos projetos contamos com o Ministério da Cultura, a USP, o SESC, o Centro Cultural Banco do Brasil.


AS “IdéiaFICs”

        A atuação da FICs parte de um diagnóstico da situação social do audiovisual brasileiro e busca alternativas para vencer algumas dilemas atuais. Acreditamos que o aperfeiçoamento do audiovisual brasileiro passa pela superação das limitações criativas impostas tanto pelo oligopólio das corporações de produção de conteúdo, quanto pela atomização da produção artesanal. No momento, o audiovisual brasileiro está cingido entre fronts diversos, cada um com um configuração própria.  
            O cinema  no Brasil tornou-se um jogo de salão, com convidados finamente selecionados, dançarinos adestrados em passos previsíveis,  comentários inteligentes incapazes de ultrapassar as janelas cuidadosamente fechadas, e até alguns enfant terribles, que alegram a festa gritando que o rei está nu.
        Na TV o ambiente é outro. Domina o conservadorismo dos produtores de salsichas, interessados em otimizar o custo-benefício do comércio com o qual entopem a vida dos comensais nacionais. A grande vantagem, aqui, é que a pujança burguesa atraiu o melhor dos talentos surgidos nas últimas décadas, ainda que pára submete-los a um lugar secundário dentro dos esquemas de produção em massa e, consequentemente, reduzindo em muito o potencial de impacto que teriam sobre a cultura brasileira.
             Ou seja, o cinema brasileiro apequenou-se, deixando à TV oligopolizada a atividade de construção de uma cultura nacional contemporânea, na qual os núcleos criativos não tem poder de multiplicação e difusão de um espírito artístico de resposta a nossos dilemas como povo submetido às intempéries de um mundo selvagemente neocolonial.
       Por fim, as inciativas de atividade cultural independente, que nos anos 70 e 80 prometiam uma ativa resistência, perderam força, num necessário paralelismo ao ocaso dos movimentos sociais em grande escala que, nos primeiros anos da Nova República, anunciavam uma retomada dos caminhos desbaratados pela violência militar. Hoje a produção independente, seja em cinema ou em vídeo, está reduzida a um gueto ainda mais socialmente inexpressivo que o cinema, ainda que, por vezes, produza obras em si de qualidade
                         
Queremos construir um resposta em vários níveis a situação acima diagnosticada:

 
DEMOCRATIZAÇÃO

 A elitização do acesso aos meios de produção audiovisual não é apenas mera decorrência da desiqguldade estrutural brasileira. É ainda mais absurda, na medida de sua ainda maior concentração. Digamos que, no audiovisual, ainda estamos na Velha República, anterior a entradas dos setores médios e de trabalhadores na esfera pública.
 Se os abismos sociais não  são apenas injusto, como estruturalemente impeditivo de um rela desenvolvimento, não há porque na estender o raciocínio ao audiovisual. Ainda mais quando se sabe que os setores de criação de conteúdos são uns dos poucos acessos dos países de pouca industrialização no circuito econômico mundial. Trocando em miúdos: a música brasileira conquistou seu lugar mundial por ter conseguido manter uma ligação, ainda que tensa, entre pequenos criadores e grandes negócios. O mesmo não ocorre no audiovisual.
Hoje, com os recursos eletrônicos e informáticos, essa espécie de revolução da produção audiovisual é possível e desejável.
A FICs quer ser um central de identificação, coordenação e potencialização de talentos dispersos, reunindos em função de uma produção audiovisual ao mesmo tempo seriada e experimental.
A possibilidade de redes de colaboração via Internet potencializa a descentralização geográfica e a ampliação das fronteiras sociais dos envolvidos na produção, para além das oligarquias culturais situadas nas franjas das elites das metrópoles do centro-sul.
O resultado almejado em um grande enriquecimento de repertório, estético e temático, com enraizamento e apelos regionais, numa abertura de caminhos para a resistência a homegenização correlata às incorporações corporativas em curso.

             Utilizando-nos da tecnologia digital de captação e edição audiovisual e da Internet como canal de distribuição, buscamos superar as limitações criativas impostas quer pelo oligopólio das corporações de produção de conteúdo, quer pela atomização da produção artesanal. Quebrando os caminhos institucionalizados de acesso à produção, nosso modelo serve ainda de instrumento de combate à exclusão digital – o que poderá ser multiplicado pelas parcerias com grupos dedicados a info-inclusão.


INOVAÇÃO

              Apostamos nossas fichas que a mudança de modo de produção acima sugerida implicará numa mudança estética. Fora dos caminhos já consolidados, estamos certos de encontrar um capacidade de invenção inaudita, que certamente encontrará seus destinatários – hoje sufocados pela programação em massa da atividade.
              Contra o discurso legitimador da reposição do mesmo, acreditamos na ampla possibilidade e viabilidade da ampliação do leque de ofertas. Contra a versão audiovisual da ideologia da imposições do “mercado”, acreditamos uma produção que pressione o sistema audiovisual no sentido da criação de novos mercados, contribuindo para a superação da oligopolização do imaginário sob a qual vive hoje a população do país e para a ampliação dos canais de atividade profissional no audiovisual, para além da estufa dos bem –nascidos.
A invenção será fruto não da individualidade, mas da dinâmica coletiva de relacionamento entre conteúdos e formas antes estanques.


COLETIVISMO

Nossos procedimentos de trabalho buscam espacar tanto da alienação de uma megacorporação quanto de um produção individual idealista.
As tecnologias digitais, ao mesmo tempo que ampliaram as possibildades de ação independentes, facilitaram a conexão entre inciativas antes marginais. Inspirados em fenômenos de inteligência coletiva, como os sistemas informáticos de código aberto, acreditamos na coordenação de esforços conectados em redes descentralizadas como modo de superação dos atuais esquemas de produção e reprodução de conteúdos e posições já confirmadas e confirmadoras do status quo.
Chamamos nosso empreendimento de “fábrica” sob inspiração das idéias das vanguardas russas sobre a superação do individualismo como modo de produção. Como nessas visões utópicas, nossa “fábrica” não se distingue de uma “escola”, onde esforço de investigação e de criação fazem parte do mesmo processo coletivo de produção. Não há espaço, neste modelo, para as reivindicações de genialidade individual, nem para a estratificação hierarquizada de trabalhos.
Os processos são valorizados em detrimento das individualidades, seja de sujeitos, seja de obras. Os resultados são como que “ precipitados” de
um fluxo contínuo de revisões, mudanças de procedimentos, ajustes, onde a interferência dos outros  não é vista como um “mal necessário”, mas como um saudável sistema de pressões ao qual cada um deve submeter seus esforços.
Numa escala mais ampla, acreditamos numa implosão das fronteiras guardadas que diferenciam os especialistas produtores do público consumidor. Quanto mais ampla for a rede de contatos envolvida nos processos de produção, maior será a capilaridade da atividade, e maior será sua capacidade de responder à “encomenda social” por obras audiovisuais.
No limite, ambicionamos ultrapassar mesmo a modelo de produção para mercados, criando situações não-mercantis de produção, onde oferta e demanda relacionem-se por meios mais diretos de pressão.


TÉCNICA, RAZÃO, INTUIÇÃO

              Acreditamos que é possível e desejável a superação do abismo hoje instalado no audiovisual entre reflexão e realização. É falsa a afirmação de que o pensamento crítico sufoca a criatividade. Basta ver o significativo volume de valiosas reflexões legadas por artistas que se dedicaram a pensar sobre seu trabalho.
              Por outro lado, a razão não deve ser utilizada para construção de pretensos padrões de correção. Deve servir ao processo criativo, como etapa necessária de ordenação da força expressiva, numa dialética initerrupta de momentos de explosão intuitiva e análise, criação e crítica.
              Em nosso contexto, a pesquisa universitária obteve conquistas importantes nas últimas décadas, que não foram plenamente aproveitadas em seu potencial de fecunda influência sobre a produção, como já aconteceu em outros momentos.
              Nossa proposta de fabrica de “idéias” visa desfetichizar tanto o pensamento critico quanto a atividade de realização, reconectando-as num mesmo processo cultural.
              Sob essa ótica, as “técnicas” de criação de natureza. Deixam de ser macetes práticos, regras de correção inquestionáveis que legitimam seus detentores como “iniciados”, e passam a ser vistas como “procedimentos” que devem ser julgados em função do projeto geral das obras em questão. Noutras palavras, não há “fotografia correta”, apenas fotografia mais ou menos adequada ao projeto em desenvolvimento, que deve ser compreendido reflexivamente.